domingo, dezembro 21, 2008

Saudades do Verão

Saudosento Dentino suspirava pelo calor como a neta da irmã da sua vizinha suspirava pelo seu amado.
Não que seja para aqui chamada, mas tenho problemas com referências... lembro-me sempre da tia da vizinha da prima do meu avô, bla bla bla...

Saudosento Dentino não suportava o frio, nem a chuva nem roupa a mais.
Gostava era do Verão, como cantava o outro... Da praia, do sol a queimar-lhe as bochechas e a arruivar-lhe a barba.

Ainda se lembrava quando...

"Uma vez fui à praia, com a ti Francisca e o Ti Tó e os sobrinhos todos e a vizinha, ti Jacinta com o seu rezingão marido. Belo dia de praia... e o mar a chamar por mim!
Sempre fui aventureiro... E a minha Xuxu, que Deus a tenha, ficava a arfar à beira-mar, a saltitar de aflição.
Xuxu era a minha querida cadela, entenda-se.

Um belo dia, já eu não era novo, mergulhei e como sempre lancei-me confiante mar fora, sem medo, até bem ao fundo. Fiz uma série de piruetas debaixo de água, aperfeiçoei a minha performance "à rã". Fiz trinta por uma linha, caramba!

Mas nem sonhava que o perigo estava à espreita...Não ali! Mas à beira-mar, onde as ondas batem violentamente, desfazendo-se em espuma e areia.
Já eu me preparava para saír da água, para descansar a minha pobre Xuxu, que Deus a tenha, quando me vejo arrastado, empurrado de costas por esta malvada onda... (que bem ficava aqui uma música de Graciano Saga).

Quando saí, a minha fala não era a mesma, a minha boca não era a mesma, os meus dentes... já não me pertenciam.
Naquele amaldiçoado dia, perdi a minha dentadura que tanto dinheiro me tinha custado.

Pobre Xuxu que tinha ficado sem um casaquinho de Inverno, para o seu dono lhe poder dar ordens e elogios perceptiveis.

Ti Tó, ti Francisca e os sobrinhos todos,ti Jacinta e seu marido Rezingão, eu e a minha querida Xuxu, que Deus a tenha, todos fizemos uma busca incansável à maldita placa fugitiva.

Cada onda, cada catadela...
Encontrámos 5 dentaduras.

Nenhuma era a minha.
Tinha um dente a mais ou os dentes mais à esquerda, ou eram os de cima...
Mas a minha doce placa, que o mar a tenha, ali ficou, a gozar a maresia pela qual eu tanto suspiro."

Saudosento Dentino diz que tem medo de morrer sem voltar a ver o mar. Tirita de frio e abraça o aquecedor a fingir que é o sol com os pés num alguidar, a fingir que é o mar.

Quanto à sua dentadura, foi ao encontro de uma lapa e viveram felizes para sempre...ou até à próxima apanha.

1 comentários:

Maria Ostra disse...

Ahahah! :D
Há mar e mar,
há dentadura a ir
para não mais voltar!