Quem conspira contra mim?!

Chamo-me J.

Um destes dias ouvi uma conversa entre os meus pais e uma pessoa que não reconheci.

Diziam que eu era esquizofrénico.

Já não é a primeira vez que os ouço conspirar e agora já percebi que desculpa dão às pessoas para me envenenarem.

Sim, porque eu bem vejo o que me deitam no prato, no puré, no meio dos brócolos, na saladinha de queijo... Pareço um gato gordo, que medicam, enganado pela papinha mole e gulosa, a que se tem direito apenas ao fim de semana.

Devem ter dito a toda a gente, pois bem vejo como me olham de soslaio e como me falam de forma condescendente.

Aprendi a divertir-me com isto.

Há uns dias apanhei uma tola, antiga amiga e resolvi usar expressões sem lógica, como "a expectoração da perna" ou "expectoração do pénis", enquanto explicava a minha fantástica teoria acerca dos relacionamentos de amizade nos dias de hoje.

Fez-se muito compreensiva, enquanto procurava desesperadamente por um escape.

Voltei a encontrá-la uns dias mais tarde.

Não me pareceu compreender quando lhe expliquei que o penteado novo, que ela tinha apontado, era fruto de uma tesoura holandesa que me apareceu lá em casa. Não sei o que há de tão complicado nisto... Apareceu e pronto!

Não posso dizer que ame o penteado, mas toda a gente sabe que não se deve contrariar uma tesoura holandesa!

Bom, mas tenho de ir.

Tenho ali algo debaixo da cama a espiar-me e desconfio que não sejam os chinelos...