-E, na tua opinião, como deveria ter sido essa nossa felicidade?
A mulher respondeu lentamente, estática:
-Amarmo-nos, sem nunca pararmos um só momento, adorarmo-nos, não sermos duas pessoas, mas uma só.
Sílvio replicou prontamente:
-A tua felicidade é genérica e convencional. Sabes em que coisa me faz pensar?
-Em quê?
-Nos postais ilustrados que se encontram nas tabacarias, aqueles brilhantes, a cores, com o galã de cara de sonso, besuntada e maquilhada, que aperta nos braços a rapariga de olhos pintados. E ao canto há um lindo amor-perfeito ou uma rosa.
(...)
-A felicidade é sermos o que somos, profundamente, sinceramente, sem compromissos, mesmo à custa de sermos infelizes. Percebeste? A felicidade tivemo-la durante estes dois anos, porque nos amávamos e o amor faz que o homem e a mulher sejam eles mesmos, sem as convencionalidades que tanto te agradam. Exactamente por nos termos maltratado, insultado, por termos questionado, fomos felizes. Percebeste?
Alberto Moravia, Belo Amor