Pura melancolia

Toda ela era melancolia, minha amiga. Só melancolia, melancolia... Olha, uma verdadeira melancólica era o que ela era!...

Até o rosto branquinho como um nabo, os cabelinhos dourados coladinhos à testa, escorridos, e a boquinha suplicante em forma de biquinho de pássaro, tudo nela era pura melancolia e esperança triste.

Acordar todos os dias era uma batalha e deixar o abrigo da sua casa - uma agonia.

Só as recordações, ah, as recordações de uma beleza morta, morticinha de todo, a tranquilizavam, pobre anjo...

E os outros para ela?! Ui, ela considerava que todos os outros - "com os seus corações ocos e superficiais", como dizia - eram uns desalmados, uns banais, que não podiam compreender a sua ânsia tão profunda... e secreta, acrescento eu aqui para nós, que acho que nem ela sabia o que ansiava...

Enfim... era uma melancólica. Uma melancólica, uma melancólica... Mas os seus múrmurios e suspiros não incomodavam ninguém. Ninguém...

Que Deus a tenha!...